Aqui jaz um amor, sem pergaminho
onde se escreva o conto do seu fado
nem pluma que desenhe em acto póstumo
com tinta do meu sangue o seu retrato.
Sobre a recordação em carne viva
o tempo passará dedos de balsámo
e, cumprindo a sequência do seu ritmo,
noites e madrugadas, passo a passo,
estancarão na alma a hemorragia.
As horas com seus gestos reiterados
e um novelo de linhas invisíveis
costurarão com ténues pontos sábios
as delicadas bordas da ferida.
Recôndito e inaudível será o pranto.
Quando a memória recobrar o rumo
sobrará como um tímido reparo
a cicatriz à flor da pele da alma
e um resto de pesar velho e bizarro.
Tania Alegria